BRR em Movimento: Uma Conversa com Filipe Dias Sobre Inovação e o Futuro do Setor Elétrico
Este espaço do BRR em Foco foi criado para compartilhar e discutir a evolução da gestão de ativos no setor elétrico, mas como já falei antes, a regulação não é um monólogo.
O setor elétrico está em evolução, e abrir espaço para
outras perspectivas é essencial para compreender estas mudanças. Depois da excelente
conversa com Luis Tomaselli, (https://brunosoliveira.blogspot.com/2025/02/brr-em-movimento-uma-conversa-com.html?sc=1739820014443#c6086197814873735582)
agora é a vez de mais um convidado compartilhar sua experiência e visão sobre
os desafios e oportunidades da BRR e da inovação no setor elétrico.
Desta vez, quem me acompanha nesse bate-papo é Filipe
Dias, sócio da Norven Consultoria, profissional com tive
oportunidade de trabalhar ao longo dos anos e que acumula uma trajetória
consolidada no setor. Atuando diretamente com regulação, gestão de ativos e
transformação digital, Filipe traz uma visão estratégica sobre o posicionamento
das concessionárias diante das novas exigências regulatórias e o papel da
inovação nesse cenário.
Nesta entrevista, discutimos sobre sua trajetória
profissional, a atuação da Norven, a inovação no setor elétrico, desafios
regulatórios e as perspectivas de futuro para a BRR e gestão de ativos.
Acompanhe a entrevista completa abaixo!
Filipe, você tem uma carreira consolidada no setor elétrico.
Conta para a gente um pouco sobre sua formação, trajetória, desde o início até
o momento atual como sócio da Norven.
Me formei como Engenheiro Eletricista pela Universidade Federal de Uberlândia em 2011. Desde o início, tive muita afinidade com disciplinas técnicas, o que foi fortalecido no meu primeiro emprego, em uma consultoria de engenharia, onde atuei com estudos de proteção elétrica, especificação de bancos de capacitores e filtros harmônicos.
Contudo, a oportunidade de trabalhar com Regulação do
Setor Elétrico mudou completamente minha trajetória. Passei quase cinco anos no
Grupo Energisa, atuando com Base de Remuneração Regulatória (BRR) e Regulação
Técnica e Comercial — tema que também trabalhei na AES Eletropaulo.
Nessas duas experiências, além de trabalhar com
profissionais excepcionais, vi de perto organizações comprometidas com
processos bem estabelecidos, metodologias de gestão e excelentes exemplos de
desdobramento estratégico. Foi nesse ambiente que me interessei por gestão de
negócios, o que me levou a cursar um MBA em Gestão Empresarial.
Em 2017, recebi o convite do Guilherme Tannus —
profissional que sempre admirei pela excelência técnica e visão de negócios —
para executar um projeto pontual de Revisão Tarifária. Mas não parou por aí,
"deu liga" e, desde então, temos compartilhado o desenvolvimento de
muitas ideias, colhendo excelentes resultados na Norven. Hoje, continuo atuando
operacionalmente nos projetos, mas também tenho exercido funções de
desdobramento estratégico e desenvolvimento de novos negócios.
A Norven tem se destacado como uma empresa inovadora no
mercado de consultoria. Como você define o posicionamento da Norven no setor e
quais são os principais desafios que vocês enfrentam hoje?
Excelência, parceria e inovação. Essas três palavras
definem a essência da Norven. Somos focados em resultado e superação de
expectativas, jamais abandonamos nossos clientes/amigos e somos motivados pela
busca constante de formas mais eficazes e eficientes de gerar valor.
Inclusive, não nos definimos como uma consultoria, mas
como uma assessoria orientada em dados: além de identificar oportunidades
através de análises de dados, desenvolvemos e apoiamos ativamente a
implementação das soluções.
Nosso posicionamento é de crescimento sustentado, com
forte foco em utilities, pois ainda vislumbramos amplo espaço para
desenvolvimento tecnológico e aumento de performance neste mercado.
Os desafios que enfrentamos são comuns a empresas em
expansão: novas concorrências, ampliação do alcance da marca e a multiplicação
acelerada das nossas competências e cultura para os novos integrantes da
equipe.
A inovação tem sido uma palavra-chave para as empresas do
setor elétrico nos últimos anos. Na sua visão, quais são as inovações mais
relevantes que têm impactado o mercado e como a Norven tem se posicionado nesse
contexto?
No contexto da Base de Remuneração Regulatória, vejo três perspectivas principais de inovação:
Evolução tecnológica e procedimental da fiscalização:
desde que comecei a trabalhar com BRR há mais de uma década, a fiscalização já
foi executada por via documental, planilhas de Excel, VBA/macros, ACCESS, SAS
e, por último, Python. Todos estes movimentos foram inovadores, mas este último
está inserido em um direcionamento de eficiência, priorização e capilaridade
que ampliaram expressivamente a capacidade de análise.
Ambiente externo/global: big data, IA e
transição energética estão impulsionando a transformação tecnológica e digital.
Especialmente sobre a transição energética, o usuário das redes está deixando
de ser apenas consumidor para um agente ativo: GD, veículos elétricos, uso
dinâmico e consciente de energia etc. Minha aposta particular, no entanto, está
nos sistemas de armazenamento de energia, acredito que estamos próximos de uma
próxima revolução tecnológica.
Ambiente interno/empresas: As empresas do
setor elétrico, que já estavam em um movimento de transformação digital, estão
sendo ainda mais impulsionadas pelos dois primeiros fatores. Exigência de dados
cada mais vez mais volumosos e consistentes, a crescente velocidade da informação
de múltiplas fontes e as novas formas de utilização de energia têm exigido uma
dinâmica muito mais acelerada de resposta à mudança, o que passa essencialmente
pela transformação digital.
Contudo, não vemos a inovação apenas como software ou
hardware, mas como qualquer melhoria de processo, por menor que seja, o que tem
ocorrido de diversas formas.
Sobre como a Norven tem se posicionado nesse contexto,
nós buscamos ser protagonistas e colaborativos, não apenas respondendo às
mudanças, mas identificando oportunidades de antecipação e incentivo de tudo
aquilo que promove evolução. Então focamos no desenvolvimento de produtos
sempre atuais para as empresas, acompanhamos e contribuímos com os movimentos
da ANEEL e monitoramos constantemente os temas mais promissores para nosso
negócio.
Como você enxerga o momento atual do setor elétrico no
Brasil? Quais são as principais oportunidades e riscos que as empresas precisam
considerar nos próximos anos?
A discussão sobre as prorrogações das concessões é, a meu ver, a oportunidade mais expressiva no curto prazo. O que for definido nos próximos meses terá impacto direto nos próximos 30 anos da maior parte do mercado de distribuição de energia no Brasil.
Além disso, o setor elétrico está imerso em uma
gigantesca transformação tecnológica. A dinâmica das redes elétricas daqui a 5
ou 10 anos pode ser completamente diferente de hoje, podendo até estabelecer
novos papéis para os agentes.
Para ambos os casos, podem ser identificados muitos
riscos, mas acredito que para qualquer risco há uma oportunidade, depende de
como você se posiciona.
Na sua opinião, quais serão os principais temas que irão
moldar o futuro do setor elétrico? O que as empresas precisam começar a pensar
desde já para se preparar para o que está por vir? E Os profissionais de Base e
Ativos, estão acompanhando tais perspectivas de futuro?
O setor elétrico é fundamentado em tecnologia e ciência (física/engenharia), então acredito que o conhecimento técnico e a inovação continuarão sendo fatores fundamentais, ainda mais por conta da revolução tecnológica que estamos vivendo.
Contudo, a compreensão comportamental das gerações tem
assumido uma importância muito grande, tanto para o ambiente interno quanto
externo. Estamos vendo mudanças geracionais muito rápidas e significativas: a
geração Alpha, de nativos digitais, está chegando ao mercado de trabalho,
enquanto a geração Beta, de nativos em IA, já está despontando. A adaptação ao
novo padrão de uso da rede passa pela capacidade de entender e atender as
necessidades dessas gerações — a nova geração sempre dita a direção do mundo.
Filipe, para fechar, deixo o espaço aberto para você
comentar algo que considere relevante e que não abordamos. Qual mensagem você
gostaria de deixar para os leitores?
Quero agradecer pelo convite e parabenizar o Bruno, colega de BRR e amigo de longa data, pelo empenho em proporcionar este ambiente de compartilhamento de conhecimento e ideias. Sua iniciativa é enriquecedora e inspiradora!
Sou extremamente realizado com meu trabalho e estou muito
animado com o momento que o setor elétrico está vivendo. Não quero ser
considerado otimista, mas compartilho da visão de Ariano Suassuna:
"Os otimistas são ingênuos e os pessimistas amargos. Me considero um
realista esperançoso."
A conversa com o Dias reforça algo que já era
evidente para quem acompanha o BRR em Foco e está ligado no setor elétrico: estamos
vivendo uma grande transformação, gerada por fatores relacionados à transição
energética e novas exigências regulatórias.
O impacto dessa mudança não é apenas tecnológico, mas cultural.
A Norven é um bom exemplo deste movimento ao não se definir apenas como uma
consultoria, mas como uma assessoria orientada por dados, que busca não
apenas localizar os erros, mas atuar focando no desenvolvimento e implementação
de soluções. Esse posicionamento reflete uma tendência crescente no setor: a
necessidade de análise rápida, tomada de decisão ágil e adaptação constante.
Outro ponto que percebo na entrevista é que a fiscalização
e a gestão de ativos já não podem mais ser conduzidas da mesma forma que no
passado. O avanço de tecnologias como Big Data, IA e automação de
processos está tornando o ambiente regulatório mais dinâmico e exigente. As
concessionárias precisam se antecipar às mudanças, garantindo que suas
equipes e processos estejam preparados para esse novo cenário.
A transição energética também se destaca como um fator de
mudança. Como Filipe muito acertadamente pontuou, o consumidor está deixando
de ser passivo e se tornando um agente ativo da rede elétrica, com geração
distribuída, armazenamento de energia e novas formas de consumo. Isso impõe
desafios regulatórios complexos, mas também cria oportunidades para modelos de
negócio mais eficientes e inovadores.
Se a transformação do setor elétrico está cada vez mais
acelerada, o mesmo deve valer para aqueles que trabalham diretamente com Base
de Remuneração Regulatória e Gestão de Ativos. O volume crescente de dados,
a necessidade de precisão na fiscalização e as novas exigências regulatórias
fazem com que o papel desses profissionais seja mais estratégico do que
nunca. Entender os fluxos regulatórios, antecipar tendências e dominar as
ferramentas certas não é mais um diferencial – é uma necessidade para
garantir que as empresas estejam preparadas para os desafios que vêm pela
frente. Aqueles que adotarem uma postura reativa e retrograda podem impactar
resultados relevantes em suas carreiras e nas concessionárias que representam.
Ter um olhar atento sobre essa evolução e participar
ativamente dessas mudanças é o que diferencia um profissional de BRR do passado
e o profissional de BRR do futuro.
A regulação do setor elétrico está em um momento de ruptura
e renovação. Como sinalizado pelo Filipe, o desafio agora não é apenas
reagir às mudanças, mas estar na linha de frente da transformação.
E agora, quero saber de vocês:
Como enxergam essa evolução do setor? As concessionárias e os profissionais
estão preparados para essa nova era da regulação?
Deixe seu comentário e vamos continuar essa discussão!
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