Valoração de Ativos: Um desafio diário
Em nosso post sobre o Quadro Resumo da Base de Remuneração
foi apresentado que o cálculo da base de remuneração – líquida e bruta – partem
da rubrica Ativo Imobilizado em Serviço à Valor Novo de reposição, primeira
linha do QR. Este valor representa o resultado da reavaliação dos ativos
considerando a metodologia vigente no submódulo 2.3 do PRORET, mas antes de
aprofundarmos nesta valoração são necessários alguns conceitos
Estes conceitos serão apresentados aqui, mas em algum
momento, pretendo escrever um glossário de com as infinitas siglas que a gestão
de Ativos no setor elétrico possui.
Acredito que a primeira das abreviações que devo apresentar
é o AIS. AIS significa Ativo Imobilizado em Serviço e se refere ao registro de
todos os bens da companhia, incluindo equipamentos diretamente relacionados à
prestação de serviço, mas também apresentam bens administrativos, comerciais e
outros. Esta grande base de dados possui as principais características dos
ativos considerando o apresentado no MCSE (Manual de Contabilidade do Setor
Elétrico) e no MCPSE (Manual de controle patrimonial do setor Elétrico). Destas
informações alguns carecem participar do nosso percurso.
Nos AISs das concessionárias brasileiras temos o VOC – Valor
Original Contábil – de cada um destes ativos. Este VOC é a soma dos custos
inerentes à instalação de cada um dos equipamentos. Este valor é segregado em
quatro principais vertentes o (i) VF - Valor de Fábrica: que corresponde ao
custo efetivo do equipamento principal, o (ii) COM – Componente Menor: que se
refere à soma dos custos dos equipamentos
de suporte e complementares utilizados na referida instalação, o (iii) CA –
Custos Adicionais: que são aos custos diretos (MOP e Serviços de terceiros)
relacionados à instalação, agregados aos custos indiretos como as bases de
rateios (Custos fretes, MOP, impostos e outros) e, por fim o (iv) JOA – Juros
sobre obras em andamento: representam os custos financeiros associados ao
financiamento de investimentos em obras ou projetos em andamento. Esses juros
são incorporados ao Valor Original Contábil (VOC) de um ativo imobilizado em
serviço (AIS).
Além disso, o AIS apresenta dados técnicos que permitem caracterizar os ativos apresentados. Este registro dos dados técnicos é feito por meio de uma codificação definida no MCPSE e permite – de maneira geral – compreender tecnicamente o equipamento e sua utilização na prestação do serviço elétrico. Abaixo um exemplo:
TUC: 255
A1: 01
A3: 01
A4: 10
A5: 14
Temos um Poste Duplo T de concreto com 10 metros de altura e
200 daN de esforço instalado em uma rede de distribuição área urbana.
Esta interpretação dos dados considera:
TUC - Tipo de Unidade de Cadastro
A1 - Atributo Tipo de Bem
A2 a A6 - Atributos com características técnicas
Após entender estes conceitos é possível avançar na
valoração dos ativos e como esta valoração é aplicada no contexto dos laudos de
avaliação para definição da Base de Remuneração Regulatória, que tanto já
falamos.
Os ativos do setor elétrico são integralmente valorados pela
metodologia de VNR – Valor novo de reposição - e isso significa,
conceitualmente que o cálculo envolve uma análise detalhada dos ativos,
incorporando avanços tecnológicos e eficiência operacional. Os custos de
substituição são estimados, levando em conta não apenas o equipamento principal
(VF), mas também componentes menores (COM) e custos associados à instalação (CA
e JOA).
Segundo já referido muitas vezes, submódulo 2.3 do PRORET, a
forma de definição do VNR é feita a depender do tipo do Ativo e sua utilização.
Via de regra temos três principais métodos de definição do VNR.
VNR por Banco de Preços referenciais (VNR BPR) – O
Banco de Preços Referenciais (BPR) foi instituído pela Aneel em 2015, aplicado
a partir de 2016, e surgiu com o objetivo de mitigar a discricionariedade dos
processos de fiscalização. Tornando-os mais homogêneos e efetivos. Sua
metodologia consiste em realizar alguns processos:
1.
Definição dos valores de fábrica (VF): Neste
caso o valor de fábrica é apurado considerando o Banco de Compras da
concessionária, que se refere à totalidade das compras realizada pela
concessionária durante o período de valoração. Após os processos de validação
desta base, é realizada a correção monetária pelas fórmulas COGE, agregados
custos de Ordens de compra (consolidado dos custos de compras das
concessionárias), também são somados os valores de ICMS não recuperável
calculado também em metodologia específica e, por fim, realiza-se a média
ponderada dos preços apurados e definido o valor unitário de cada equipamento.
2.
Componentes Menores (COM) e Custos Adicionais
(CA): Aqui reside o principal ponto de mudança na aplicação do BPR. Estes
custos são definidos regulatóriamente. A Aneel fornece uma tabela com os custos
de instalação (COM e CA) dos principais equipamentos destinados à prestação do
serviço de distribuição de energia e estes são agregados ao VF para composição
do VNR. Vale destacar que a Aneel realiza alguns processos buscando a correta
valoração dos ativos considerando as diversas particularidades das concessionárias.
Dentro destes processos cabe destacar a atualização dos valores dos módulos de
ativos considerando os custos reais das concessionárias e a segregação destas
em cluster – grupos de concessionárias que leva em conta diversas variáveis
como região geográfica, porte da concessionária e nível de complexidade da área
de concessão.
3.
Juros sobre obras em andamento (JOA): Na
definição do VNR, considera-se o JOA regulatório que é calculado considerando
um percentual a ser aplicado na soma das variáveis acima (VF+COM+CA) e a
definição deste percentual considera o grupo da concessionária e a tipologia
que o ativo está enquadrado. Este cálculo é apresentado no PRORET.
Assim, podemos concluir que o VNR por Banco de Preços
referenciais (VNR BPR) é calculado somando (VF + COM + CA +JOA).
Valor Original Contábil Atualizado (VOCa): Outra
métrica crucial para a definição do Valor Novo de Reposição (VNR) é o VOCa.
Essa métrica consiste na atualização do Valor Original Contábil (VOC) por
índices específicos. De maneira geral, o VOCa é determinado considerando o
Valor de Fábrica do VOC, atualizado pela variação das fórmulas COGE, e os
custos de Componentes Menores (COM), Custos Adicionais (CA) e Juros sobre Obras
em Andamento (JOA), atualizados pela variação do IPCA. Ambos os casos (COGE e
IPCA) consideram a data de imobilização como ponto de partida, e a correção
monetária movimenta esses valores para a data de corte do laudo de avaliação.
Orçamento Edificações (OE): O processo de valoração
de edificações, obras civis e benfeitorias no setor elétrico, conforme
estabelecido pelo Proret, é meticuloso e detalhado. Inicia-se com a
identificação e caracterização dessas estruturas por meio de inspeção física e
análise documental abrangente. O Valor Novo de Reposição (VNR) é calculado
considerando custos unitários predefinidos, devidamente ponderados por região,
padrão construtivo e tipologia da edificação. A avaliação por orçamentos
sintéticos é aplicada a benfeitorias e obras civis, requerendo um levantamento
quantitativo detalhado dos insumos utilizados, fundamentado em inspeções de
campo, plantas, projetos e documentos contratuais. A avaliação também considera
o modo de utilização do imóvel, com cálculo do índice de aproveitamento para
remunerar apenas a área efetivamente utilizada para distribuição de energia
elétrica.
A decisão sobre o método de avaliação deve ser feita
considerando as premissas de avaliação definidas pela Aneel e são resumidas no
fluxo abaixo:
Em suma, a valoração de ativos no setor elétrico envolve uma
série de processos e metodologias complexas, que visam garantir a justa remuneração
dos investimentos – tanto para o consumidor quanto para o gestor - e a
eficiência operacional das concessionárias.
Peço desculpas pelo texto longo, sei que pode ter sido um pouco cansativo de ler. Mas acredito que era importante entrar em detalhes sobre os conceitos e metodologias de valoração de ativos do setor elétrico. Se ficou alguma dúvida ou se quiserem discutir mais sobre o assunto, estou à disposição para conversar. Sua compreensão e interesse são muito importantes para mim. Não hesite em me chamar para trocarmos ideias sobre esse tema crucial para a regulação do setor elétrico.
Muito bom o post, conseguiu explicar os principais pontos que impactam na valoração dos Ativos. Parabéns pela iniciativa.
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