De Olho no Futuro: Regulação Energética Global e Lições para o Brasil
Dando sequência aos nossos posts e após uma lacuna
considerável, volto com um tema que demandou um estudo minuciosa
de informações de várias fontes. Não consegui encontrar um único local onde
todos os dados estivessem agrupadas, o que tornou a tarefa ainda mais complexa.
Este artigo busca explorar a regulação do setor elétrico em diferentes países,
ampliando o foco para além do Brasil.
Minha motivação para escrever sobre este tema foi a
necessidade de expandir o conhecimento sobre a Base de Remuneração Regulatória
(BRR), não se restringindo ao âmbito nacional. Entender como outros países
lidam com a regulação do setor elétrico pode oferecer insights valiosos e
promover a troca de melhores práticas.
Escolhi explorar a regulação do setor elétrico nos Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha por serem referências globais em termos de eficiência, inovação e sustentabilidade. Cada um desses países adota abordagens distintas, proporcionando um panorama diversificado e enriquecedor.
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No Reino Unido, o modelo regulatório RIIO (Revenue = Incentives + Innovation + Outputs ou Receita = Incentivos + Inovação + Resultados) é uma verdadeira revolução na forma como as empresas de energia são incentivadas e remuneradas. Implementado pelo Ofgem (Office of Gas and Electricity Markets ou Escritório de Mercados de Gás e Eletricidade), o RIIO integra incentivos financeiros para eficiência, inovação e qualidade de serviço. A ideia é simples: quanto melhor o desempenho, maior a recompensa. As empresas são remuneradas com base em metas de desempenho e resultados, recebendo incentivos para superá-las e enfrentando penalidades se não o fizerem. Esse modelo promove a modernização contínua e a sustentabilidade do setor, alinhando os interesses das empresas com os dos consumidores e do meio ambiente.
Na Alemanha, a Energiewende, ou transição energética, é o
ponto central da regulação. Com um foco forte em sustentabilidade, a Alemanha
utiliza tarifas feed-in (tarifas de alimentação) para incentivar energias
renováveis e um modelo de regulação que promove eficiência e redução de
emissões de dióxido de carbono (CO₂). A remuneração das empresas é
principalmente baseada em CAPEX (gastos de capital), com tarifas fixas
garantidas para produtores de energia renovável, incentivando investimentos em
tecnologias limpas e sustentáveis.
A remuneração dos investidores no setor elétrico varia
conforme o país. Nos Estados Unidos, há uma combinação de tarifação por custo
de serviço em mercados regulados e mecanismos de mercado em estados com
mercados competitivos. No Reino Unido, o modelo RIIO integra CAPEX e OPEX
(despesas operacionais), incentivando eficiência e inovação através de
incentivos financeiros e metas de desempenho. Na Alemanha, a remuneração é
principalmente baseada em CAPEX, complementado por tarifas feed-in que garantem
preços fixos para produtores de energia renovável.
O modelo de regulação descentralizada nos Estados Unidos
permite uma grande flexibilidade local, com uma combinação de mercados
competitivos e regulados. Isso contrasta com a abordagem centralizada da
Alemanha, focada na transição energética e sustentabilidade, e com o modelo
inovador do Reino Unido, que integra incentivos à eficiência e inovação.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) emitiu em
2023 uma tomada de subsídio onde o tema TOTEX (Total Expenditure) foi
comentado. A busca de informações sobre o assunto é válida, pois é um caminho
que a ANEEL pode ou pretende percorrer, promovendo uma abordagem integrada de
CAPEX e OPEX. TOTEX integra CAPEX (gastos de capital) e OPEX (despesas
operacionais) em um único modelo de regulação. Isso incentiva a eficiência ao
permitir que as empresas escolham entre investir em novos ativos ou otimizar os
existentes, promovendo uma gestão de recursos mais eficaz e alinhada com as
melhores práticas internacionais.
Estudar a regulação do setor elétrico mundialmente é
essencial para identificar casos de sucesso e promover melhorias no contexto
nacional. A troca de experiências e práticas bem-sucedidas pode contribuir
significativamente para a eficiência, sustentabilidade e inovação no setor
elétrico brasileiro.
Por fim, quero destacar que este artigo é apenas uma
abordagem inicial e que podem ocorrer complementações ou ajustes necessários. O
objetivo aqui não é apresentar uma resposta final, mas sim iniciar uma
discussão. Convido os colegas do setor e leitores em geral a complementarem,
corrigirem e ajustarem os pontos apresentados para enriquecer esta discussão.
Conto com o apoio de todos!
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