BRR: o caminho silencioso que sustenta o valor das distribuidoras

 Escrever aqui no BRR em Foco é um exercício diário de reflexão e análise, me deixando mais atento ao ambiente que me cerca dentro das concessionárias. Nas últimas semanas, a minha rotina de gestor de BRR me trouxe a oportunidade de conversas bem produtivas e engrandecedoras com profissionais com grande know-how nas áreas de controladoria e novos negócios. Estas áreas têm enorme intersecção com o universo da BRR. Mas, na prática, se cruzam muito pouco na rotina das empresas

 

Nestas conversas, percebi o quanto a Base de Remuneração Regulatória (BRR) é pouco explorada fora do nosso nicho técnico regulatório, mesmo sendo um dos pilares principais da sanidade econômico-financeira das concessões. Esta percepção me trouxe uma inquietação: como um tema tão central como a remuneração das concessionárias pode parecer tão isolado das decisões estratégicas das empresas?

 

Na academia e ao longo da minha carreira, tive a oportunidade de agir como um profissional de regulação em demandas tanto estratégicas como na visão econômica que faz o setor girar. Esta bagagem me fez perceber algo que digo aqui rotineiramente: “A BRR não é apenas uma fórmula”, mas um processo constante e fundamental no setor, e que precisa ser traduzido para dialogar diretamente com gestores financeiros, planejadores, controladores e inovadores dos grupos econômicos.

 

Assim nasce a proposta desta série de cinco posts, sendo este o primeiro, que buscará romper as fronteiras entre áreas.

 


Na controladoria, explorarei o conceito do reconhecimento dos investimentos, saneamento do VOC, as relações entre VOCa e VNR e a importante distinção entre o ativo contábil e o ativo regulado. Também discorrerei sobre o impacto direto da BRR no valuation e no risco financeiro.

 

Interagindo com os profissionais de novos negócios, quero falar sobre modelagem de projeção de BRR, conceitos de CAPEX ao longo do tempo das concessionárias, e oportunidades e alavancas de BRR na valoração das empresas.

 

Com o time de engenharia e operação, quero explorar a diferença entre investir bem e investir com foco na BRR: laudos, critérios de aproveitamento e elegibilidade.

 

E, para finalizar a série, vou explorar a visão do planejamento estratégico e sua interface com o CAPEX: quais os principais conceitos que devem nortear os investimentos das concessionárias no curto, médio e longo prazo.

 

Esta necessidade de visão mais abrangente das concessionárias se deve, pelo menos em parte, ao fato de estarmos vivendo um momento decisivo para o setor elétrico brasileiro. Diversos contratos de concessão de distribuidoras estão vencendo nos próximos cinco anos, e a União segue um caminho de renovação por mais 30 anos, com base em aditivos contratuais. Este movimento busca garantir estabilidade regulatória, previsibilidade de investimentos e continuidade dos serviços. E, neste contexto, entendo que analisar e atuar na concessionária como um agente único é fundamental para o sucesso destes novos contratos.

 

O gestor de BRR pode desenvolver essa visão e atuar como centro estratégico desses temas, uma vez que essas renovações não são automáticas: as distribuidoras precisam cumprir requisitos técnicos, jurídicos, financeiros e operacionais. Além disso, os contratos aditivados vêm com novas exigências — como metas mais rígidas de qualidade (DEC e FEC), compromissos de investimento em resiliência climática, digitalização da rede e adoção de práticas ESG. A remuneração segue baseada na BRR, mas agora sob uma ótica mais estratégica: o que entra na base, como entra, quando é reconhecido e como isso impacta a tarifa, o fluxo de caixa e a sustentabilidade da concessão.

 

Após a assinatura da renovação, o que começa não é uma etapa de descanso — mas sim de execução intensa. A distribuidora precisará comprovar sua capacidade de investimento, justificar a destinação eficiente dos recursos, alinhar sua contabilidade à realidade regulatória e se preparar para ciclos tarifários que vão julgar a qualidade da gestão de ativos. E é aí que o conhecimento sobre a BRR se torna ainda mais fundamental — não apenas para o time de Ativos, mas para toda a estrutura corporativa.

 

A verdade é que podemos (e devemos) ir além da renovação. Podemos usar esse novo ciclo de 30 anos para reconfigurar como tratamos os ativos, como promovemos decisões interdisciplinares e como medimos valor. A BRR pode deixar de ser um "instrumento técnico" para se tornar um driver estratégico compartilhado. Mas, para isso, precisamos começar por algo simples: fazer com que todos entendam o que ela é, como funciona e o que está em jogo quando se subestima sua importância.

 

Este é o primeiro post dos cinco que pretendo explorar nesta série, e meu objetivo é simples: abrir a caixa-preta da BRR e mostrar, de forma clara, como ela impacta toda a empresa.
Porque, no novo setor elétrico, entender BRR será tão essencial quanto saber ler uma DRE.
Se você está em finanças, operação, estratégia, jurídico ou inovação — este conteúdo é pra você.

 

📅 Próximo post: “Controladoria e BRR: um diálogo (urgente) sobre valor e reconhecimento”

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