Controladoria e BRR: um elo entre disciplina, valor e decisão
Neste segundo post da série sobre profissionais e seu vínculo com a Base de Remuneração Regulatória (BRR), vamos explorar o papel do controller e sua responsabilidade na sustentabilidade econômico-financeira das concessionárias.
Antes de entrar diretamente no tema, vale comentar o desafio
(e a satisfação) de estudar algo relativamente novo. Nestes mais de 10 anos de
setor elétrico, compartilhei muitas reuniões — e até algumas discussões
calorosas — com profissionais da controladoria. Foi uma grata surpresa
mergulhar no tema com mais profundidade e reconhecer tantos pontos de
convergência com a área de BRR.
Minha formação inicial como administrador, passando por MBAs na área de negócios e agora pela
graduação em contabilidade, consegui encarar esse desafio com um olhar mais
aberto. Não só por ser um tema novo, mas por parecer uma nova página de um
livro já familiar — um conhecimento diferente, mas reconhecível.
Antes visto como guardião de custos — responsável por
garantir aderência contábil, confiabilidade dos relatórios e o constante
alinhamento entre budget e realizado — o controller no setor elétrico precisou
evoluir. Hoje, ele atua como um hub de conexão entre contabilidade societária,
operação, estratégia e ambiente regulatório. Seu papel deixou de ser apenas o
de quem olha pelo retrovisor: agora, ele aprende com o passado, mas foca em
antecipar riscos e sustentar decisões de investimento.
📊 O que faz, na prática,
um controller em uma distribuidora?
De forma geral, podemos entender o papel da controladoria
como o esforço de equilibrar decisão e disciplina dentro da empresa. O
controller é o elo entre planejamento, contabilidade, operação e tomada de
decisão.
Na prática, trabalha com orçamentos, projeções, análise de
desempenho e avaliação de riscos. Mas isso é apenas a superfície. É ele quem
ajuda a responder perguntas que determinam o futuro da empresa: por que o
resultado foi diferente do esperado? Onde estamos gastando mal? Como os
investimentos de hoje afetam o fluxo de caixa de amanhã?
O controller não apenas compara o orçado com o realizado —
ele interpreta, corrige causas, mapeia desvios e propõe ajustes. É também o
responsável por traduzir a linguagem contábil para a liderança, transformando
dados em decisões, conectando relatórios a realidades. E faz isso olhando para
dentro e para fora — garantindo compliance, apoiando auditorias, mapeando
riscos e alinhando a empresa às exigências do mercado.
No setor elétrico, esse papel ganha novas camadas. O
equilíbrio entre a apropriação eficiente do PMSO, sua compatibilidade com o valor
reconhecido e a mitigação de perdas regulatórias precisa estar no radar da
controladoria. Controladoria e Regulação devem caminhar juntas para que CAPEX e
OPEX sejam tratados com a mesma inteligência estratégica.
Esse diálogo se torna ainda mais sensível no tratamento de
gastos operacionais capitalizáveis. A contabilidade, com base no CPC 20 (R1) –
Custos de empréstimos, permite a ativação de parte do PMSO relacionado a
investimentos. Isso pode melhorar o resultado contábil de curto prazo — mas só
é eficaz se os registros estiverem organizados, auditáveis e alinhados à lógica
regulatória. Sem isso, a perda de reconhecimento na tarifa pode ser inevitável.
A relação entre VNR e VOCa é outro ponto de atenção. Ela
funciona como um termômetro da qualidade do gasto: ajuda a entender se os
custos — como os contratos com terceiros, por exemplo — estão sendo
transformados em ativos reconhecíveis pela Aneel. Ignorar isso pode significar
distorções tarifárias, problemas na revisão periódica e exposição regulatória.
Para a controladoria, a BRR é um insumo técnico. Ela
alimenta os modelos financeiros, define a lógica de retorno e impacta
diretamente a precificação de riscos. Se esse número entra mal calculado — ou
baseado em premissas fora da realidade regulatória — o modelo leva a decisões
inconsistentes.
Mas quando o diálogo entre áreas funciona, os ganhos são
visíveis: menos surpresas na revisão tarifária, projeções mais realistas,
melhor alocação de capital e menor risco regulatório. Mais do que isso: esse
alinhamento fortalece a governança. A BRR deixa de ser “coisa da engenharia
regulatória” e passa a fazer parte do vocabulário comum entre operação,
finanças e estratégia.
Se há um caminho para fortalecer o setor neste novo ciclo de concessões, ele passa por uma maior integração entre áreas. E o controller pode — e deve — ser um desses agentes de conexão, ajudando a transformar insumos técnicos em estratégias empresariais sólidas.
🔜 No próximo post...
Vamos sair da controladoria e olhar para frente:
Como o time de Novos Negócios pode usar a BRR como alavanca para expansão,
M&A e valuation.
Se você atua com ativos, regulação ou finanças — essa
conversa ainda está só começando.
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