O que falta na sua mesa de planejamento? BRR.

Esta série de artigos conectando a Base de Remuneração Regulatória (BRR) a diferentes áreas da empresa me permitiu expandir a visão sobre meu papel na organização. Mais do que um exercício técnico, foi um convite a revisitar minha postura profissional e a atuar de forma ainda mais estratégica, sempre avaliando o impacto de cada ação no curto, médio e longo prazo.

 

Depois de 20 anos como administrador, sendo mais de 11 dedicados ao setor elétrico, aprendi que nenhum plano sobrevive intacto ao confronto com a realidade. E quando o planejamento estratégico não é suportado pelos melhores insumos disponíveis, o desafio se torna ainda mais crítico.

 

O setor elétrico sustenta sua trajetória de crescimento na expansão com eficiência e qualidade. Mas analisar esses vetores sem incluir a BRR como variável central pode gerar desvios relevantes. A BRR não pode ficar restrita ao mundo regulatório: ocupar espaço na mesa do planejamento é um passo natural e necessário para todo profissional de BRR.

 


O problema real que observamos é que quanto a estratégia não conversa diretamente com a BRR, cria-se um desalinhamento entre o planejamento estratégico com a realidade regulatória da concessionária.

 

Um exemplo claro é a definição do CAPEX.
O ciclo de Revisões Tarifárias  (RTPs a cada 4 ou 5 anos) cria um fluxo de capitalização que deve ser considerado no planejamento. Capitalizar investimentos próximo à data da RTP reduz a depreciação acumulada no laudo e garante maior reconhecimento. Algo aparentemente simples — como a data da RTP e o corte da base — pode representar uma alavanca significativa na remuneração da concessionária.

 

Outro ponto é a gestão do Ativo em Curso (AIC), obras e estoques. Obras em andamento na data da RTP podem somar bilhões e, ainda assim, só serão remuneradas no próximo ciclo tarifário, entrando na BRR apenas pelo valor residual.

 

Esses exemplos mostram que o planejamento estratégico pode ser profundamente impactado pela ausência de informações que já estão disponíveis dentro da própria concessionária.

 

Considerando esses drives — e tantos outros — minha inferência principal é simples: a BRR deve integrar ativamente a equipe de planejamento estratégico. Não apenas como espectadora de luxo, mas como agente prático, fornecendo insumos objetivos para a tomada de decisão.

A BRR traduz o Valor Original Contábil (VOC) em Valor Novo de Reposição (VNR), mas também atua transformando investimento em receita e apoiando o processo de geração de valor.

Assim, equipes multidisciplinares de BRR e Estratégia devem manter atenção especial para:

  • Estratégia de CAPEX da concessionária – quando executar os investimentos;
  • Políticas de Ativação do PMSO – qual o valor correto a ser adicionado aos ativos;
  • Acompanhamento dos saldos em curso – buscando o “em curso” ideal, equilibrando atendimento operacional e viabilidade financeira;
  • Relação VNR / VOCa – reconhecimento efetivo dos investimentos;
  • Impacto do CAPEX no valor das corporações – análise da relação entre BRL e o valor da concessionária.

 

Uma outra vertente relevante da ação do time de BRR no planejamento pode ser analisado mais “Mão na Massa”, quando a equipe pode analisar individualmente os projetos propostos pelas áreas técnicas e agregar à mesa de análise informações como TIR, VPL e Payback dos projetos, simular cenários de entrada em operação, construir investimentos pensando na receita.

 

Esta complexa análise deve observar diversos fatores positivos e negativos, partindo de informações técnicas do projeto (tipologia, taxa média de depreciação, origem de capital, fluxo financeiro, outros), analisando suas alavancas de receita (remuneração de capital, quota de reintegração regulatória, remuneração de OEs, CAIMI) e também as componentes técnicos que perpassam redução de multas, perdas, confiabilidade técnica e tantas outras de forma à responder a pergunta simples: Vale a pena fazer este projeto?

 

Diante de tantas variáveis e interações, fica evidente que a BRR não pode se limitar ao papel de fiscalização. Ela é um insumo estratégico, capaz de transformar ativos em valor, mitigar riscos e orientar decisões que definem o futuro das concessionárias.

 

Integrar a BRR à estratégia não é mais uma opção — é uma necessidade para diferenciar empresas que apenas reagem daquelas que constroem vantagem competitiva

 

Nesta série, começamos desmistificando a BRR como peça escondida, mas vital, para a saúde financeira das distribuidoras e mostrando sua conexão com áreas pouco exploradas. No segundo artigo, o foco foi a Controladoria, destacando como a BRR pode transformar disciplina contábil em decisões estratégicas e reduzir riscos regulatórios. Na terceira parte, avançamos para os Novos Negócios, onde evidenciei que valorar uma concessão sem olhar para a BRR é como avaliar um imóvel pelo telhado, defendendo a BRR como diferencial competitivo em M&A e leilões. Agora, no quarto artigo, fecho o ciclo mostrando como a BRR deve sentar-se à mesa do Planejamento Estratégico, atuando não apenas como um instrumento regulatório, mas como alavanca para construir valor, orientar investimentos e sustentar a visão de longo prazo das concessionárias.

Gostou da série? Acha que BRR e a Gestão de Ativos pode fazer ainda mais? Comente, Compartilhe e me chame para tomarmos um café e conversar sobre um tema tão relevante e intrigante!

Até a próxima!

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