Indicadores que iluminam o Caminho: Os Segredos da Gestão Eficiente da Base de Remuneração (BRR)
No complexo cenário do setor elétrico, em que cada decisão estratégica molda o futuro da infraestrutura energética, a gestão eficiente da Base de Remuneração Regulatória (BRR) emerge como o alicerce fundamental para o sucesso operacional das concessionárias. Em nossos posts anteriores foram apresentados temas mais relacionados ao entendimento profundo da base de remuneração. Conceitos práticos que tem por objetivo fornecer ao leitor fundamentação teórica sobre o que é a BRR e sua utilização e neste contexto falar sobre os melhores indicadores para uma gestão eficiente.
De maneira geral, podemos definir os indicadores de
desempenho como uma série de processos e metodologias destinadas a avaliar procedimentos
específicos com foco no curto prazo (12 meses) e médio prazo (24 a 36 meses).
Tais indicadores devem ser sempre factíveis de medidas objetivas sejam elas
qualitativas ou quantitativas e que permitam comparação direta com metas
previamente definidas. Os resultados destes indicadores permitirão à gestão da
empresa decisões estratégicas direcionadas a maximizar os resultados e mitigar
potenciais perdas.
Considerando tais informações e a necessidade fundamental da
gestão eficiente da BRR, a criação de uma cesta de indicadores aderente aos
principais pontos de atenção da BRR é fundamental. Será apresentada abaixo uma
lista de indicadores que podem ser aplicados nas concessionárias para otimizar
o desempenho e nortear as atividades do time de BRR.
Projeção da Base de Remuneração Regulatória
Definição: Comparação objetiva entre o valor da BRR
projetado no início do ciclo de apuração em relação ao forecast mensal.
A projeção da base deve levar em consideração as curvas de capitalização,
baixas, depreciação, constituição e amortização de obrigações especiais,
projeção de IAS e IAT, evolução de bens totalmente depreciados e demais
variáveis da Base Remuneração Regulatória Líquida (BRL). Estas variáveis são
projetadas no início do período e atualizadas com dados reais.
Periodicidade:
Mensal.
Insumos: Previsões de movimentações de Ativos, Projeção das
variáveis macroeconômicas, Estudos oriundos dos laudos homologados e previsões
de reavaliação.
Objetivo: O indicador “Projeção da Base de Remuneração” é
fundamental para adicionar previsibilidade à BRR das concessionárias, mas
superando esta visão mais rasa, ele também pode ser utilizado para medir a
eficiência na execução das obras, ciclo de vida dos ativos, análise de
depreciação, idade média e mais uma infinidade de inferências que podem ser
realizadas com uma projeção de BRR eficiente.
Adicional: Indicado desenvolver estudo de evolução de bens
totalmente depreciados no Ativo Imobilizado em Serviço (AIS) de forma a
orientar as áreas técnicas na construção de programas de renovação da área de
concessão e alavancagem prudente da BRR.
Adições de Ativos Elétricos ou Capitalização de obras
Definição: Verificação entre os valores projetados e realizados das obras encerradas e adicionadas aos Ativo Imobilizado em serviço. São considerados apenas ativos elétricos e que compõem a Base de Remuneração – foco na relevância do investimento – e a projeção deve ser realizada considerando os projetos planejados pelas áreas técnicas acrescido dos custos de manutenções em investimentos projetados pelas áreas responsáveis.Periodicidade:
Mensal.
Insumos: Projeção de capitalização e adições do Ativo
Imobilizado em Serviço.
Objetivo: Validar a execução das obras conforme projetado,
analisar a previsão das capitalizações sob a ótica da BRR e sua otimização.
Adicional: Neste contexto é possível analisar o Saldo do AIC
- Ativo imobilizado em Curso - que restará após o corte da Base, já que estes
recursos já desembolsados comporão a remuneração apenas após 4 ou 5 anos do
ciclo tarifário.
Glosa BRR ou Saneamento do Valor Original Contábil (VOC)
Definição: Análise das obras capitalizadas no mês aplicando
a metodologia vigente pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL ) de
saneamento do VOC incluindo, mas não se restringindo à (i) Caderno de Materiais
e Serviços, (ii) Normas Técnicas, (iii) Flag Data ou Caderno de Serviços
Referenciais (iv) Obras com Unidade de Adição de Retirada ou Unidade de
Cadastro inferior à 10%.
Periodicidade: Trimestral.
Insumos: Razão de Obras Sintético, Razão de Obras Analítico,
Ativo Imobilizado em Serviço, Normas técnicas, Tabela de Materiais da
concessionária.
Objetivo: Verificar a correta apropriação de valores nas
obras e sua aderência às normas previstas no MCPSE (Manual de Controle Patrimonial
do Setor Elétrico), MCSE (Manual de Contabilidade do Setor Elétrico), PRORET (Procedimentos
de Regulação Tarifária) e metodologias de validação ANEEL.
Adicional: Neste tipo de estudos os analistas e
especialistas irão verificar os custos das obras segregados em Valor de fábrica
das Unidades de cadastro, Custos Adicionais e de componentes menores. Neste
contexto é possível realizar comparações entre projetos, análise dos preços
médios de estoque em relação aos valores de compras efetivo, valores
apropriados nas obras decorrentes de rateios. Em todos os casos estes testes
adicionais permitem ao time de BRR a validação dos dados do Razão de obras,
replicando assim processos realizados pela ANEEL.
Valoração de Ativos Elétricos ou Análise do Banco de Preços
Referencial (BPR) dos Ativos Elétricos
Definição: Comparativo entre o VOC em relação aos VNR (Valor
Novo de Reposição) das obras capitalizadas no período incremental até a data de
competência de apuração do indicador.
Periodicidade: trimestral
Insumos: Razão de Obras Sintético (ROS), Razão de Obras
Analítico (ROA) e Ativo Imobilizado em Serviço.
Objetivo: Validar se o valor investido nos bens adicionados
ao Ativo Imobilizado em Serviço no período incremental será reconhecido nos
processos de Revisão Tarifária Periódica (RTP).
Mutação AIS ou Conformidade de Ativos ou Conciliação
Razão x AIS
Definição: Validação das adições do AIS considerando os
dados do Razão de obras e alterações entre os patrimônios da empresa
decorrentes de baixas ou transferências.
Periodicidade: Mensal
Insumos: ROS, ROA, AIS e relatório de Baixas do AIS.
Objetivo: O objetivo principal é validar a correta adição do
AIS e seu devido lastro no Razão de obras, não considerando apenas os valores,
mas também dados técnicos dos materiais apresentados no ROA. Além disso,
constrói-se a mutação do AIS comparando (AIS Anterior somado às Adições do AIS
e líquido das Baixas deve ser igual ao AIS Atual).
Adicional: Cabe destacar que potenciais sobras contábeis
decorrentes de adições do AIS sem vínculo do com Razão de obras resultam em
expurgo no laudo de avaliação e, por consequência, redução da base de
remuneração.
Aderência Banco de Compras ou Conciliação Banco de Preços
x SPEDs
Definição: Conciliação entre o Banco de Compras da
concessionária – lista de todas as compras realizadas pela concessionária em um
determinado período – em relação aos SPEDs (Sistema Público de Escrituração
Digital) do mesmo período.
Periodicidade: Mensal
Insumos: Banco de Preços e SPEDs
Objetivo: O Banco de Preços é peça fundamental para
valoração dos ativos e sua correta conciliação com os SPEDs garante a aderência
dos valores apresentados com as Notas fiscais. Este teste é realizado pela
Aneel nos processos de revisão tarifárias.
Adicional: Os analistas e especialistas em BRR poderão
utilizar este processo para construção de indicador adicional de ‘outliers ou
‘máximos e mínimos localizando assim itens que poderão gerar questionamentos
pela Aneel e já validar tais lançamentos.
Conciliação Base de Dados Geográfica da Distribuidora
(BDGD) ou Mutação BDGD ou Teste SIG_R
Definição: Comparativo entre a BDGD em relação ao AIS. Este
teste deve ser realizado individualmente vinculando ID_BDGD x Imobilizado AIS,
sendo ID_BDGD lançamentos únicos e número de imobilizado do AIS (ou Número de
Patrimônio a depender do ERP) passível de repetições já que bens de controle de
massa podem ter diversas unidades em um único patrimônio. Esta conciliação deve
ter como devolutiva um percentual de aderência qualitativa, as bases devem
vincular considerando características técnicas (TUC – tipo de unidade de
cadastro e Atributos) e dados contábeis (Data de Imobilização, ordem de
imobilização - ODI, etc).
Periodicidade: Anual
Objetivo: Nos processos de Revisões tarifárias a Aneel teste
tal aderência e os desvios resultam em ajustes no laudo de avaliação. Além
disso, deve-se executar a equalização quantitativa das bases e desvios podem
resultar em baixas adicionais e, por fim, tais dados impactam diretamente em
informações relevantes relacionadas à KM de Rede, Perdas Técnicas, Número de
Unidades de Consumidores e outros.
Adicional: É indicado também a realização do teste SIG_R que
compara a nível de Registro (Concatenado de
ODI.TI.ITUC.Atributos.AnoImobilização) em ambas as bases pois percentuais
abaixo de 95% carecem de justificativas e, em casos extremos, podem resultar em
indeferimento dos processos de Revisão Tarifária.
Em um ambiente tão dinâmico quanto o setor elétrico, os indicadores de desempenho da BRR não são apenas métricos; são bússolas que orientam as concessionárias em direção a uma gestão mais eficiente e eficaz da base de remuneração. Ao analisar e agir com base nesses indicadores, as empresas podem tomar decisões mais informadas, antecipar desafios e maximizar oportunidades de crescimento.
Convido todos os leitores a compartilhar suas experiências e
sugestões sobre os melhores indicadores de performance da BRR. Juntos, podemos
enriquecer nosso conhecimento coletivo e fortalecer a capacidade do setor
elétrico de enfrentar os desafios do futuro com confiança e determinação.
Post muito bom, elucida quais os indicadores nos auxiliam quanto a gestão da base de remuneração, lembrando que a base está relacionada diretamente com outros processos e quando acompanhados facilitam nos processos internos e de fiscalizações. Parabéns pelo trabalho.
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